quinta-feira, 5 de junho de 2008

A metamorfose


Numa manhã nublada, dona lagarta passeava pelo jardim–a medrosa esverdejante- em seu caminhar desengonçado, saciava-se à comer grama verdinha pelo jardim afora.
Seguia seu rumo vagarosamente(ela não tinha relógios e nem os precisava), a própria determinava o seu cotidiano e tempo.
De repente, aos ouvidos da vagarosa lagarta, um barulho alarmante diferente:
-Era a senhorita borboleta – a esvoaçante purpurinada- que sobrevoava o jardim ,com seu bailar alado, encantando as flores que coloriam aquela manhã cinzenta. Pousou na rosa, ao seu lado.
Pensando que não era notada, a medrosa lagarta escondeu-se abaixo de uma imensa folha da espinhosa roseira(“os espinhos serão meu escudo” -pensava) e ali, aquietou-se arfada.
A borboleta, sorrindo percebeu o feito e pensou: ”um dia ela se libertará ...”
Aos poucos, uma camada fibrosa foi encobrindo seu corpo e formando uma casinha em volta de si(mesmo assustada, a lagarta insistia:"estou cada dia mais forte e protegida, aquele bicho voador diferente não me fará mal ”)
E desse dia em diante, todos as manhãs a purpurinada borboleta fazia a “guarda”(e aguardava) à sua semelhante. Sonhava com o dia, que a medrosa sairia de seu casulo.
Numa manhã ensolarada, sob o desabrochar de um luminoso botão, ele se rompeu, mas nada aconteceu.
A lagarta, que agora tinha asas e virara borboleta, muito assustada com sua transformação e sem saber como lidar com o inusitado, medrosamente permanecera imóvel.
Foi quando a borboleta purpurinada aproximou-se à ela e disse:
-Venha irmã, não temas! Fazemos parte da mesma mãe natureza. Vivenciamos metamorfoses semelhantes, emboras distintas em sua concepção e tempo de percepção.
-E sobretudo: agora tens asas e pode voar.
Vamos, bata suas asas! Liberte-se! Bata suas asas, você pode, voe!
E lá foram ambas emocionadas, voando em direção opostas.
Refletindo e repousando, renovadas em seus íntimos distintos, na sua semelhança.
Cada qual, respeitosa e respaudada no seu mutável e mundano infinito azul.



(Cris Poesia)

Nenhum comentário: