sexta-feira, 6 de junho de 2008

Catarse


A poesia é um leão
Com garras e pêlos
Reina silente como uma fera na espreita
Chora soberana como um filhote com garras
Nada misteriosa como um peixe desconhecido
Flutua, revelando-se como um dente de tubarão
Mais colorida que um sonho esquecido
Mais negrita que um pesadelo sentido
Mais complexa que um desejo realizado
Mais aclamada que uma ferida encoberta
E endeusada como uma deusa grega
Exterminada, sedutora desumana
Humanamente pueril, febril
Escolhe e atiraDuvida e acata
Coitada e bem-feita
Ventura e mal-paga
Não lhe basta, é mais...


Verdugo ecológico, floresce humana
Dissolve invertebrados, absorve vértebras
Envenena veias e soam claves de pus
Vomita espasmos de riso...
Devora sóis mortos como quem masca chiclet atômico
Expele luas vivas como quem suga ares
Eleva polvos ao passeio pelas mãos, junto à Medusa
Deixa rastros, com pés de minhoca ou pegadas de sonhos
Mas sempre Zeus, como uma nuvem de gafanhotos adocicados
Ora Orfeu, como uma fogueira de sais adornados em desejo
Outrora Afrodite, seduzindo
Eros entre a plebe a lhe cortejar
Balbucio: poesia no ar !


(Cris de Souza & Érico Alvym)

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